#01 | Tanta coisa começa porque alguém decide escrever
Diante da crise da distração que as redes sociais provocam, alguém escolhe parar para ler. Diante de tanta incerteza, alguém pratica a literatura como resistência da atenção
Tanta coisa começa porque alguém decide escrever. Escrever a história de como fica uma família depois que um pai é levado pelos aparatos da ditadura. Escrever sobre um episódio que aconteceu há muito tempo, ou há pouco também. Porque dor não tem data de validade. Dor não prescreve.
Em cada palavra a gente carrega um mundo inteiro. A gente escreve para não esquecer. A gente escreve para entender. A gente escreve para se entender. A gente escreve para fazer sentido, para dar sentido ao que passamos, ao que reverbera, ao que ainda nos atravessa.
E quem escreve dá a sorte de encontrar quem lê. O maior feito do Brasil até hoje na grande premiação do cinema mundial começou por um livro. Porque alguém decidiu escrever. Escrever a sua história. A história da sua família. O seu ponto de vista. Colocar no papel tanta coisa.
Cada história parece só nossa, mas carrega um pouco da humanidade inteira. A gente é tão mais parecido do que diferente, mas tem quem insista em nos separar com muros, sejam eles metafóricos ou literais. E a gente escreve. Para dar conta do horror. A gente recorre a quem escreveu antes para encontrar contexto – e algum amparo também.
A cada oportunidade que tenho de falar do meu livro, repito: que sorte alguém escolher ler o que escrevi. Diante da crise da distração que as redes sociais provocam, alguém escolhe parar para ler. Diante do colapso do mundo como o conhecemos, alguém escolhe um livro (o meu livro!). Diante de tanta incerteza, alguém pratica a literatura como resistência da atenção. Celebro e comemoro.
Tudo começou porque um dia alguém decidiu escrever. Sem esperar as condições ideais, sem saber qual retorno teria. Apenas porque não saberia viver de outro jeito. Porque precisava dar vazão ao que quase explode por dentro se não encontra saída – e que ganha contorno quando dividido. Um dia alguém decidiu escrever. E nunca mais o mundo, o seu mundo, foi o mesmo. Escrevamos!
texto maravilhoso, obrigada pela oportunidade em ler!
Lindo isso. Escrevamos!