#08 | O que publicar na internet me ensinou e me ensina sobre a escrita
Eu pensava: será que vou ser vista como uma “escritora de Instagram"? Mas bora combinar: quem pode não usar as redes sociais para alavancar seu trabalho?
Por um bom tempo, pensei: será que vou ser vista como uma “escritora de Instagram"? Afinal, foi ali que eu comecei a me soltar mais, a escrever com mais constância. Tenho até um template para os meus textos. E como foi bom criar com uma designer essa solução. Eu deixava de escrever porque não tinha uma imagem pra acompanhar o texto. Quase um falso problema, eu sei. Será que era isso mesmo, ou era a impostora me dizendo pra adiar mais um pouquinho a vontade?
A real é que usar as redes sociais como espaços para os meus textos me ensinou e ensina muito. E, todos os dias, confirma a ação em si. É muito bom ter um espaço para escrever o que eu quiser, quando quiser. E, ainda, encontrar quem me lê.
Mas nesse mundo dos livros há muitas coisas não ditas que podem nos deixar nesse lugar meio esquisito, de pensar: será que vou ser vista de uma forma séria, ou será que vão me classificar como alguém “menor”? Parece que o “certo” seria não dividir pensamentos, e sim guardá-los para uma publicação. O “certo” seria não ser acessível, e sim misteriosa, quem sabe apenas dar um micro spoiler de um confinamento que confirmasse a vocação e também o compromisso com a escrita. O “certo” para quem escreve é ter o que escreve em um suporte como o do livro.
Isso pode ser só eu comprando uma ideia antiga, mas imagino que vocês entendem, né? E me deixa sempre com um pensamento: a quem interessa diminuir a escrita do outro por conta de um suporte? Hoje é Instagram – e agora Substack. Amanhã pode ser outro lugar. E agora tem meu livro também, ufa que alegria. E outros que virão. Eu escrevo. Em livro, na internet, onde mais? A escrita pode me levar para muitos lugares… Que bom, que sorte!
Para além disso, quem não está usando as redes sociais para alavancar seu trabalho? Quem tem as condições materiais e o privilégio de não precisar fazer isso. Ainda mais num setor em que quem escreve dificilmente vive só de escrever livros. A gente participa de evento, faz palestra, cria oficina, dáa aula. Tudo a partir da escrita e dos livros, mas num desdobramento para outras searas. Afinal, boletos. Então, fazer as pazes com essa vitrine que o digital me parece não só esperto como necessário.
E o que eu aprendi escrevendo na internet? Resolvi dividir isso com vocês.
Que escrever e publicar nas redes é um ótimo incentivo para a minha disciplina. Pra escrever, a gente precisa sentar pra escrever. Nem sempre dá, a gente escreve nas brechas etc. Para ler mais sobre isso, busca uma edição anterior dessa newsletter: Como escreve a escritora que não vive só de escrever?. Ter um perfil ativo estimula minha disciplina. Tem hora que abro o bloco de notas do celular e começo um texto. Aquilo precisa sair de mim, então simbora.
Também entendi que constância é fundamental para a minha escrita. Não dá pra escrever uma vez e aparecer só em ano bissexto para fazer isso de novo. Seja no seu perfil, seja em um projeto de mais fôlego. O que acontece quando a gente comparece todo dia? O que a gente escreve pra azeitar a máquina? O que aquilo que a gente divide com os outros nos traz de novos insights?
Com essa dupla dinâmica ativada, disciplina e constância, você também acaba conseguindo lidar melhor com a sua impostora. Você já escreveu, você tá fazendo isso sempre. Agora bora publicar e ver o que acontece? Ô treino bom, treino possível. Inclusive porque se você se arrepender é só deletar. Uma ideia na gaveta é tão perfeita, né? Quando ela vai pro mundo, o que ela traz de resposta também? Spoiler: na maioria das vezes você vai se surpreender com as respostas positivas, viu?
O que me leva para o próximo aprendizado. Quem usa a internet para dividir sua escrita acaba criando uma comunidade de pessoas que te acompanham, que fazem seu texto circular em outras bolhas, que te chamam pra uma conversa, um evento, uma palestra etc. Vale lembrar, também, que se você está nas redes é interessante interagir com que te lê. Afinal, é uma conversa. São essas pessoas que vão vibrar na hora que você anunciar seu livro. E como é bom encontrar essas pessoas ao vivo! Trocar a partir do texto é uma das coisas mais bonitas dessa vida.
Por fim, o compromisso com esse ambiente online acaba fazendo com que você escreva mesmo quando acha que não tem o que dizer. Tem, viu? Esse compromisso te ajuda a ficar firme na sua vocação. Um combinado com você mesma, antes de tudo. E isso é um ótimo exercício de musculatura.
O que me leva exatamente ao último ponto, que é: escrever é que nem fazer exercício. Quanto mais você faz, mais você se acostuma a fazer – e sente falta quando não faz. Se a gente tem que se movimentar ao menos três vezes por semana, se não o corpo degringola, com a escrita é a mesma coisa.
Nem precisa escrever três textos por semana (afinal, você tem seus projetos mais longos, assim como eu), mas um por semana já te deixa no grau, com jeito, com o corpo respondendo, aquecido, com os dedos deslizando no teclado quase como num daqueles segundos de corrida que te fazem pensar que você pode tudo. Então, que bom que a gente treina. Que bom que tem as redes sociais pra gente fazer isso. Ajuda demais no que quer que a gente queira escrever. Experimenta!